Etec Uirapuru

Rua Nazir Miguel, 779 - Jd. João XXIII
CEP 05570-030 - São Paulo/SP
Telefone: (11) 3782-5376 / (11) 3782-4837
E-mail: etecuirapuru@yahoo.com.br
Site: www.etecuirapuru.com.br

 

 

 

 

 

 

 

A Escola e a Comunidade

 

Em setembro de 2009 assim que fui designado para implantar a Etec Uirapuru agendei a primeira visita para conhecer o local da construção do prédio, que fica localizado no bairro do Jardim João XXIII, o qual somente tinha conhecimento por meio de pessoas que moravam na região.

 

Chegando ao local logo percebi as proporções deste desafio, inicialmente por motivos profissionais, visto que nenhum dos cursos faziam parte do quadro da Etec Martin Luther King de onde eu era professor e, em segundo, pela escola estar em um local de difícil acesso do bairro, consequentemente desprovida de avenidas e próximo de terrenos ocupados por invasões que buscavam emancipação.

 

Com base neste cenário, tomei a iniciativa de entrar em contato com as lideranças da região e participar das reuniões destes grupos, os quais os encontros se justificavam por um problema que não poderia ser diferente daquele contexto – a violência.

 

Desta forma, desde a implantação da escola, busquei desenvolver projetos sociais que demonstrassem a nossa solidariedade com os problemas do bairro e justificassem a ocupação da escola naquele espaço.

 

O prédio foi construído no que antes eram ocupados por uma creche, um sacolão, dois campos de futebol, uma pista de skate e 3 sedes de lideranças comunitárias, informações que eu tomei conhecimento ao passo de que alguns moradores da região nos relacionava a escola que tirou a pista de skate e, para outros poderia ser o campo de futebol, para alguns o sacolão e assim por diante, apesar da presença da Etec Uirapuru ter sido também uma luta de moradores e de Associações comunitárias da região.

 

Assim que nos conscientizamos dos motivos de algumas ocorrências que a escola começou a enfrentar, passei a estreitar o meu relacionamento com esta comunidade, o qual em determinado momento passamos até em compartilhar o espaço da quadra poliesportiva para que alguns grupos de moradores do entorno da escola e de locais mais carentes desta região utilizassem o espaço para recreação, como a prática do futebol.

 

Esta iniciativa permitiu um maior diálogo com grupos informais, até mesmo para conhecer a realidade e os reais motivos do aumento da criminalidade na região, a qual de forma notória confirmava a falta de ações sociais por parte do Estado, que proporcionassem outras escolhas para quem quer optar por uma vida que não esteja à margem da lei, o que infelizmente não acontece e só aumenta uma hemorragia social que tende a não estancar.

 

Inesperadamente passamos a ter outras ocorrências de depredação do prédio e algumas invasões até no período das aulas, algo que deixou alunos, professores e funcionários em pânico, principalmente nos deixando mais incomodados pela coincidência da ausência da utilização da quadra poliesportiva por parte da comunidade, que se justificou quando tomamos conhecimento que até alguns deles infelizmente se somaram aos que estavam praticando estes atos de vandalismo.

 

Entre as várias lições aprendidas até este momento, a que trata da relação com a comunidade me ensinou que em se tratando de grupos que não tem liderança formal e até mesmo aqueles que têm mas não estão vinculados as esferas legais, como prefeitura, estado ou governo federal, os acordos não se comprometem com uma sustentação legal e podem mudar de ideia quando bem entenderem, podendo descumprir às vezes os acordos que foram celebrados até mesmo em seu próprio benefício.

 

Além de documentar de forma cronológica todos os fatos por e-mail ou ofício para a administração central, acompanhados de boletins de ocorrência quando fosse o caso, buscamos notificar a comunidade por meio de reuniões com Associações de cunho social e lideranças comunitárias, que nos ajudassem a conscientizar a comunidade da importância da escola e da relevância social para aqueles que estudam naquele local, sendo em boa parte moradores da região.

 

A partir destas reuniões tomei conhecimento que os motivos destas ocorrências não estavam associados simplesmente por ocuparmos a pista de skate ou outro equipamento anterior a presença da Etec, mas relacionados a problemas de violência desta comunidade e troca de lideranças de meliantes da região, com isto percebi que o momento era oportuno para realizarmos uma ação dentro da escola com a participação da comunidade, que demonstrasse que a escola também se preocupava com estas questões e estava disposta a dar a sua contribuição dentro da sua vocação natural que é a educação.

 

Após reunir os alunos, professores e funcionários e os Órgãos Colegiados como Associações de Pais e Mestres, Conselho de Escola e Grêmio Estudantil para expor os problemas da escola e as ações que estávamos tomando, recebemos o apoio de forma unânime principalmente dos alunos que são moradores da região, que passaram a nos ajudar no processo de conscientização da importância e valorização da escola.

 

Com isto, aproveitamos a proximidade do dia da não violência para realizar um evento na escola em alusão a esta data, com a presença de lideranças da região e da ronda escolar que atendeu o nosso convite. Nesta ocasião fizemos um breve relato dos motivos daquela atividade, a qual tinha fins pacíficos e a intenção de promover a mensagem de não violência em relação as ocorrências no bairro e, consequentemente na escola. No evento cantamos o hino nacional brasileiro, formando um grande círculo para dar um abraço simbólico no prédio da escola e finalizamos com um abraçaço para nos confraternizar.

 

Acredito que as lições destas experiências somente são validas quando nos ousamos a querer aprender, e estar atentos aos reais motivos das ocorrências do ambiente escolar, que pode nos enganar a pensar que somos o problema ou estamos sendo perseguidos, desta forma, devemos procurar motivação para buscar novos caminhos mesmo em condições desfavoráveis, as quais também nos permitam encontrar forças para superar outros desafios, que em uma gestão escolar passaram de ser diários para serem cronometrados por centésimos de segundo, lembrando que as situações-problema ainda não acabaram, mesmo porque esta comunidade também nos impôs uma avaliação formativa.

 

Prof.º Cristiano Pereira da Silva

Diretor de Escola

Etec Uirapuru - 230